
O refluxo é uma das principais queixas que observamos no consultório pediátrico. A maioria dos bebês vai apresentar pelo menos um período de piora das golfadas até completar dois anos e, principalmente, nos seis primeiros meses de vida.
Na maioria das vezes, ele é fisiológico: deve-se a uma imaturidade do sistema digestório do bebê. Caracteriza-se por uma volta do leite do estômago para o esôfago. Entre os dois existe um músculo chamado esfíncter, que abre para dar passagem ao alimento e depois permanece fechado, de maneira a não permitir que o conteúdo do estômago volte. Porém, no bebê o esfíncter ainda encontra-se aberto, deixando o leite voltar. Além disso, durante os primeiros meses de vida, o bebê mama com muita frequência e seu estômago é bem pequeno, o que faz com que o que consumiu retorne mais facilmente. Com o tempo, o esfíncter começa a trabalhar melhor e o número de episódios diminui.
O refluxo pode se manifestar de diferentes maneiras no bebê. Geralmente, a criança vomita ou golfa frequentemente, embora mantenha bom ganho de peso, sono tranquilo e bom humor. Esse bebê tem o nome de “vomitador feliz”. Entre os sintomas, citam-se uma pequena irritação após a mamada e até o primeiro arroto e o choro sistemático, quando é colocado deitado logo depois de mamar.
Se ele começar a ter vômitos mais intensos, as primeiras medidas serão posturais, visando minimizar o refluxo: deixe o bebê entre 25 e 30 minutos na posição ereta após a mamada, mesmo que ele arrote rapidamente. Deixe-o dormir inclinado a cerca de 30 graus. Se não puder fazer isso no berço, transfira-o para o bebê conforto. Se os vômitos aumentarem, fracione as mamadas: após 10 minutos, tire-o do peito e deixe-o arrotar, e em seguida ofereça o seio novamente.
Na maioria das vezes, essas medidas permitem diminuir os sintomas e melhorar a qualidade de vida tanto da mãe quanto do bebê. Em outros casos, porém, o refluxo se torna doença crônica. A criança se torna excessivamente irritada, as náuseas e vômitos se arrastam muito depois da mamada (cerca de duas horas), os engasgos se repetem excessivamente e não há ganho de peso. Além disso, notam-se movimentos mastigatórios durante o dia, como se a criança quisesse engolir; tosse noturna e, principalmente, falha no crescimento. O diagnóstico é feito clinicamente, na maioria das vezes, por conta dos sintomas. Quando há atraso no crescimento e os medicamentos não melhoram os sintomas, a endoscopia e a pHmetria esofágica podem ser necessárias. O tratamento vai depender do quadro clínico e das complicações apresentadas pelo bebê. Se ele estiver em uso de fórmula infantil, a simples mudança para uma anti-refluxo pode eventualmente melhorar os sintomas. Paralelamente, existe uma quantidade de medicações anti-refluxo que podem ser prescritas.
Dra. Thatiane Mahet